No começo não tinha noite.
Antes era sempre dia.
Todo mundo reclamava porque não tinha hora de descanso, não se podia dormir.
A cobra-grande guardava a noite escondida dentro de um caroço de tucumã. Ela morava na cabeceira do rio dentro do tronco de uma árvore.
A cobra grande tinha uma filha.
Um dia o filho do cacique quis casar com a filha da cobra-grande.
Ela mandou o caroço de tucumã para a filha; mandou três índios levarem o presente rio abaixo e disse a eles que não abrissem o coco.
Eles entraram na canoa e desceram o rio e no meio da viagem ficaram curiosos com os barulhos que podiam ouvir dentro do caroço de tucumã. Eram os barulhos da noite.
Eles tiraram a cera que fechava o caroço e de repente tudo ficou escuro. A noite tinha escapado de dentro do coco e não tinha mais dia.
Era só escuridão.
Os índios que estavam na canoa se perderam e viraram macacos da noite.
Quando tudo ficou escuro a cobra-grande soube que os índios tinham deixado a noite escapar de dentro do caroço de tucumã e resolveu deixar tudo assim mesmo que era para dar uma lição na humanidade.
E ficou sendo noite o tempo todo.
O povo da aldeia ficou preocupado, mas a filha da cobra-grande contou o que sabia sobre o caroço de tucumã onde sua mãe guardava a noite e resolveu subir o rio e pedir que guardasse a noite de novo porque o povo já não podia caçar nem pescar e tudo estava em confusão. A cobra-grande então resolveu que não ia fazer ficar sempre dia não, mas que ia fazer ficar um pouco dia e um pouco noite.
Foi assim e é como tem sido até hoje.
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